quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Um paradoxo: O Tempo da Vida

De que nos serve o tempo? Não andaremos nós, ínfimos seres, demasiado preocupados com o tempo… com a duração das coisas?
Tudo é contado… trabalhamos 8 horas (era bom que fossem apenas 8), acordamos às 7:00, estamos no trabalho às 8:00, almoçamos às 12:30 para depois regressar ao trabalho às 14:00… jantamos às 20:00… etc, etc .
Deparamo-nos constantemente com frases/lamentos relacionadas com o tempo do género: “Esta vida são dois dias”, “Se eu fosse mais novo”…
Será o tempo insuficiente para que um determinado Ser comungue (na verdadeira acepção da palavra) com a vida?
A Vida só pode ser considerada demasiado curta se a classificar como estando condenada à guilhotina do tempo. As limitações temporais da vida só o serão na realidade se, no nosso pragmatismo desmedido, nos pusermos a contar.
Nós, grotescos e ridículos seres, não compreendemos a verdadeira essência da vida. O Tempo é um desnecessário instrumento de medida e completamente inútil no que se refere ao verdadeiro sentido da palavra VIVER.
De que me serve ter um registo do que a vida me levou? Uma das principais faculdades do tempo é limitar as possibilidades da vida.
A minha realidade intuitiva leva-me a crer que nada do que é verdadeiramente relevante, que acontece presentemente e me torna num entusiasta amante da vida, tem a ver com o tempo.
A essência, aquilo que me torna vivo … o partilhar do riso contagiante de uma criança, o afagar do cabelo e a carícia na pele da pessoa amada, a incrível beleza das coisas simples… nada disto pode ser contabilizado em horas ou minutos. As coisas verdadeiramente importantes, aquelas que fazem emergir a nossa felicidade, sucedem-se como se o tempo não existisse.
A felicidade recusa qualquer conexão do tempo com a vida.
Eu assumo aqui e agora, o meu máximo desejo em libertar-me das correntes que me prendem a estes dois ignóbeis pesos: o tempo e as tarefas que a sociedade insiste em me impor. As tarefas que nos são impostas ou exigidas são, indubitavelmente, a repulsa do perfeito.
O acto de viver não pode, de forma alguma, ser considerado uma tarefa. O resplandecer da lua cheia, o nascer do sol ou o canto da cotovia ouvido pela manhã, não podem ser tarefas, apenas existem de uma forma bela, simples e intemporal.
A perfeição reside na preservação da liberdade de todas as coisas… de todos os seres, sem exigências contundentes, numa quietude repousante, tal como o alvo seixo que permanece no fundo das águas cristalinas de um rio … intocável, seguro de si e com a sua inata e elementar beleza.