quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Os Contemporâneos - As Gafes de Manuela Ferreira Leite




Fenomenal este sketch! Um retrato quase fiel da Lider do maior partido da oposição.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ensaio sobre a Cegueira – José Saramago


A vertente técnico/profissional imposta pela minha vida tem-me levado, um tanto ou quanto, a descurar o prazer das artes literárias, no entanto, tendo arranjado um tempinho, não posso deixar de aproveitar a oportunidade para vos falar um pouco do último livro que eu li, sendo esta uma obra marcante e que me levou a obter uma visão distinta da que até então eu tinha relativamente ao ser humano enquanto ser social.


O Ensaio sobre a Cegueira… Como encontrar as palavras certas para descrever, ainda que sucintamente, esta obra? È de facto uma tarefa complicada perante uma genialidade literária como esta.
Posso, sem sombra de dúvida dizer-vos que este foi o livro mais marcante que já li até hoje.
Que adjectivação usar para a conseguir caracterizar, sabendo de antemão que todos os adjectivos lhe assentam? … Esta é efectivamente uma obra Inquietante, cruel, desconcertante, horripilante, triste, feliz e, parando desde já com a infindável adjectivação que a poderá caracterizar, contém uma escrita raivosa que nos transcende.
O autor, na sua concepção, não utiliza referências temporais, nada nos permite dizer seguramente em que momento é que aquele mundo se insere – pode muito bem ser este o momento – O mesmo podemos dizer em relação ao espaço, apenas sabemos que a acção se desenrola numa qualquer cidade – podendo muito bem ser a nossa cidade -.
A ausência propositada das referências tempo, espaço, sem esquecer a supressão das próprias identidades das personagens, possui uma associação intrínseca à própria cegueira que se espalha.
Os indecorosos instintos demonstrados neste romance pós-moderno, os quais fazem eclodir a revolta do leitor, extrapolam o nosso conhecido “mundo civilizado”, existe aqui um confronto dos magistrais princípios da civilidade que conhecemos, retratando o colapso da sociedade num palco de atrocidades sem fim. É fenomenal esta narrativa intensa onde quase não são usados parágrafos e cujas virgulas usadas pelo autor são com o intuito de suavizar a história e nos permitir, a nós leitores, um muito ligeiro descanso aos horrores do enredo que compõem esta fábula assustadora.

Que mais dizer? Lê-lo é indubitavelmente uma experiência única.
Não tendo eu a intenção de pressagiar o que quer que seja, mas mesmo assim caindo nesse erro, não estaremos nós, sociedade deste mundo moderno, a atravessar um período de uma epidémica cegueira branca? … Não estará, por exemplo, esta alegoria correlacionada com a crise económica que atravessamos e cujo início se deu naquele país, carregado de estoicismos prosaicos onde a lei vivida é a do dólar? Sim, aqueles mesmos, os que se auto-denominam Senhores do Mundo...

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"