terça-feira, 24 de agosto de 2010

Inevitáveis Mutações

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Metamorfoses, mutações, transmutações, mudanças, transformações …. O que lhe queiram chamar… O facto é que se avizinha mais uma de grande relevância para a minha vida e que se vai reflectir em outras. Não sei porquê mas este pronuncio de mutação, leva-me a pensar numa das condições principais dentro da “teoria do caos”, o chamado “efeito borboleta”. Segundo a cultura popular, o simples bater de asas de uma borboleta poderia provocar um tufão no lado oposto do planeta. Quando penso no inevitável acontecimento, também visualizo mentalmente uma pedra a cair nas águas paradas de um lago, quando esta cai há um pequeno círculo formado pela ondulação que salta aos nossos olhos, depois são gerados outros e mais outros, quase abrangendo as margens do referido espelho de água. È a previsão que faço relativamente à afectação desta grande decisão com as pessoas que nos rodeiam e conhecem.
Como referi, é inevitável que aconteça. Há alturas na vida que requerem sólidas decisões, avançar sem cair na tentação de olhar para trás. Se isto significar um recomeçar do zero ou pelo menos um reinício do ponto inicial, pois que seja.
Uma mudança não tem que ser algo nefasto é sim, pura e simplesmente, mais uma mutação no nosso percurso de vida… talvez esta se repercuta em algo positivo para os três protagonistas. Neste momento um acto negativo seria manter essas vidas tal como estão, sem nada fazer, sem nada alterar.
Foram sete anos. Quatro foram bons, um foi razoável, outro suportável e ainda um outro que se pode classificar como mau. A sequência desta classificação pressupõe uma previsão a tender para o negativo consoante o avançar no tempo. Antes do declínio e, tendo em conta que algo poderá ainda “sobreviver aos escombros”, o melhor é efectuar uma retirada estratégica e salvar o que de bom existe … e que nos faz mover … e que amamos acima de tudo e de todos. A chave de uma saída incólume e que de certeza irá evitar um posterior “lamber de feridas” será sem dúvida alguma, a honestidade e civilidade que nos caracteriza.
Aos que me acolheram, ainda que por afinidade, como elemento integrante das suas vidas … deixo aqui o meu sentido agradecimento e a certeza de que poderão sempre contar comigo … “para o que der e vier”.
Sem ressentimentos, sem mágoas ou máculas, talvez este adeus não o seja verdadeiramente, quem sabe o “adeus” de hoje não seja um “até já” amanhã.
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Não Deixes Que Metam o Nariz na Tua Vida

"Quando falas ou simulas falar de ti próprio e amalgamas passado, presente, futuro, há sempre os que perguntam se o que contaste é verdade ou não. Nunca indagam se vai ser verdade. O que lhes interessa é saber, com a curiosidade dos intriguistas, se o que se passou (ou parece ter-se passado) se passou mesmo contigo. É um erro de gente vulgar. Parasitários ou não, qualquer invenção ou patranha, qualquer «mentir verdadeiro» é acepipe biográfico, é pretexto para te enfileirarem na nulidade biográfica que é a deles próprios e tecerem incansavelmente histórias a teu respeito. Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa. Essa pequena gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar exercício diário de falar por falar. (...) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante. O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma. Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras. É outro exercício salutar."

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"